Manifesto Oil Fantasy #04: Um bom desafio


Seria muito fácil abusar do poder que o mestre teria em Oil Fantasy. Se o que desenha seu poder é a construção e execução do desafio, se ele começasse a forçar a barra pra chamar tudo de desafio, ele alargaria seu controle para todo o resto do jogo. Vamos ver então como traçamos uma linha objetiva para entender o que é um bom desafio, para evitar isso?

O mestre não é um contador de histórias nem um animador de festas. Não é um ilusionista, manipulando emoções, muito menos o responsável pela imersão, engajamento e diversãode todos. Ele tem outra missão.

A primeira função do mestre no Oil Fantasy é criar um bom desafio. Isto é o que justifica seus poderes, que são diferentes dos poderes dos outros participantes. Sejam problemas que perdurem por todas as sessões do jogo, conflitos gerais ou encontros específicos, desafiar a galera é o que vai guiar ele em sua atuação.
 
Como o objetivo não é contar uma história e sim propor e superar problemas, queremos os jogadores rangendo os dentes de vontade de resolver os conflitos propostos da melhor forma possível para acessar as recompensas, então para evitar uma dissonância entre a vontade de vencer e a construção de um desafio pra si mesmo, deixamos com o mestre a missão de criar as tretas.

Além disto, escolher o mestre para focar na construção de bons desafios traz alguns benefícios: 

  • Delimita e desenha de forma mais clara sua atuação
  • Promove especialização e atenção dedicada à função
  • Abre espaços de interação interessantes no espaço assimétrico entre os participantes
  • Permite um preparo mais aprofundado e consistente dos obstáculos e oportunidades
  • Promove um processo de exploração do mundo de aventuras através de sutilezas do diálogo criativo
Neste ponto, o mestre controlador deve estar esfregando as mãozinhas pensando: "Mwahuahua Se eu posso controlar tudo pertinente ao desafio, agora é só dizer que absolutamente tudo diz respeito a ele, e assim não ver mais limites ao meu poder!" 

Para evitar isto, precisamos dar parâmetros objetivos do que é um bom desafio. Uma vez atendidos, o mestre tem total liberdade para tomar decisões e exercer com conforto sua arbitrariedade, construindo uma relação lúdica conhecida e saudável.

O bom desafio passa por restrições, em respeito à agência do jogador, e por requisitos formais que lhe sustentam.

Restrições relativas a agência:
  • Não deve haver problemas sem solução possível
  • Nenhum desafio deve vir desacompanhado de oportunidades sinalizadas
  • Os desafios não virão sem oportunidades e perigos paralelos
  • Um bom desafio não mitiga uma amplitude de soluções
  • A agência dos jogadores jamais deverá ser vandalizada pelo desafio como construído
Requisitos formais:
  • Propõe situações complexas e decisões difíceis
  • Guarda verossimilhança com o mundo de aventuras
  • Utiliza as ferramentas e estruturas conhecidas do jogo para parametrizar chances e oportunidades
Estes pontos atendidos, sua atuação ficará bem desenhada e estimulará uma relação lúdica mais tranquila e clara para todos, permitindo emergência de estilos pessoais. Vamos tocar nestes requisitos técnicos do bom desafio nos próximos pontos.




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