Oil Fantasy Reflexões #05 - O jogo rolado e o peso dos dados

Cossacos de Saporog elaborando um manifesto, por Ilya Repin

Anteriormente falamos um pouco sobre o jogo jogado e como ele se relaciona aos desafios propostos.

Dessa vez reproduziremos um jogo rolado e suas consequências.

Já faz um tempo que os aventureiros estão adentrando nos confins da grande pirâmide. Bem à frente de vocês encontra-se um grande portal todo feito de metal, onde duas ânforas funerárias recepcionam a todos, a seguir um corredor longo e escuro. 

DM (estabelece): Vocês se deparam com um enorme portal metálico, ornado com pequenas cenas de humanóides interagindo entre si. Aos pés do portal duas ânforas mortuárias repousam junto ao chão.

Gilberto (reage): Quero avaliar melhor essas ânforas e esses ornamentos, o que são essas criaturas? O que estão fazendo?

DM (resolve): Ok, vamos ver se você detém algum conhecimento sobre isso, role 11 (valor da inteligência do Gilberto) ou menos e te dou alguma informação.

Gilberto (reage): Droga tirei 12.

DM (resolve): Infelizmente essas gravuras não são familiares.

João (indaga): Será que eu conheço algo? Ou Talvez Alface que tem inteligência 14.

DM (resolve): Bom rolem os dois e vamos ver no que dá.

João (reage): Boa! Tirei 3! O que eu sei?

DM (estabelece): São pessoas realizando um rito mortuário, parecem preparar os corpos e colocá-los em caixões grandes, colocados em salas profundas em algumas construções antigas juntamente com seus pertences.

Gilberto (indaga): Pô e eu não percebi isso? Bom vamos seguir pelo corredor devemos estar perto dos tesouros enterrados aqui.

João (indaga): Gilberto! Procura por armadilhas aí você é melhor nisso!

Gilberto (reage): Bem lembrado, vou batendo com o cabo da minha pá nas pedras que pretendo pisar e fico de olho nas paredes procurando orifícios por onde possam sair setas, gases ou qualquer coisa.

DM (resolve): Ótimo! Vamos rolar para ver se você acha alguma coisa.


Nesse tipo de jogo, os jogadores confiam nas capacidades de seus personagens para resolverem problemas, e tentam sempre procurar as soluções em suas fichas. Superar os desafios significa acionar o atributo com melhor estatística, ter sucesso nas rolagens e o jogo avança assim, como se tivéssemos pressa em passar para o próximo desafio. Claro que o exemplo é exagerado para reforçar esses pontos, mas é certo que a criatividade dos jogadores perde parte de seu protagonismo para os dados.

No exemplo o mestre pediu rolagens para situações onde não havia risco oferecido e, de certa forma, travou o jogo, já que todos acabaram tentando passar no teste para obter informações sobre os ornamentos.

Imagine rolar para abrir uma porta qualquer e numa falha ver todos os personagens tentarem inúmeras vezes até conseguirem. Se os personagens tem todo tempo do mundo e não estão expostos a riscos, eles simplesmente abriram a porta. Caso exista risco ou pressão por tempo, pense em alternativas. Descubra o numero de turnos necessários para abrir a porta, veja se eles utilizarão recursos como um pé de cabra ou ferramentas ladinas, considere barulho e pense na reação dos que estão ouvindo essa confusão. Observe o contexto do desafio e pense em como o curso de ação mexe com aquela situação. Lembre-se das chances de encontros aleatórios e como os inimigos podem ficar atentos com isso!

Pensar em todo esse contexto faz com que o mestre esteja imerso, vivendo esse mundo ficcional e jogando ativamente, reagindo às ação dos personagens. Rolar logo de cara para superar desafios faz com que a história do jogo passe mais rápido, mas também tira o enfrentamento dos desafios da mão dos jogadores e sua criatividade. Vira um jogar sistemático, um jogo rolado.

Na Oil Fantasy, é na descrição dos "como" que ocorre o jogo em si. Este é o jogo jogado, em contraste so jogo rolado.

Viva os desafios e utilize sua criatividade. As rolagens devem carregar drama e o dado ser pesado. Só role quando realmente houver significado na rolagem.

 

 



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