Nesse post sairei da abstração, pretendo trazer exemplos mais concretos sobre negociação e arbitragem e para isso trarei algumas situações para analisarmos juntos!
Vamos começar definindo algumas coisas?
Ferramenta
Parâmetro mecânico do jogo, previamente conhecido por todos os participantes da mesa de jogo. Abordamos as ferramentas numa outra reflexão.
Negociação
O diálogo entre jogadores e mestre a fim de se estabelecer consenso sobre uma situação quando seu desfecho não é claro para todos os participantes da mesa. Nesse momento mestre jogadores apresentam suas expectativas de desfecho e argumentam até chegarem num consenso.
Arbitragem
Utilização não convencional de uma ferramenta que a utiliza como parâmetro para estabelecer a resolução de uma situação.
Agora vamos tomar alguns exemplos.
A fada de cristal
Era uma boa ideia disse Carlinhos, logo após o Ogro acordar com o ruído de moedas tilintando ao cairem no chão de pedra, escapando dos cuidados de Lucas, que foi ganancioso ao encher todos os seus bolsos e ainda atolar suas mãos nas moedas antes de sair em disparada em direção a saída. Agora ambos encontram-se escondidos atrás de uma das grandes estalagmites que decoram o chão da caverna com o Ogro, agora desperto, bloqueando a rota de fuga. A toca estava parcialmente visível graças a algumas ranhuras em suas paredes e no teto, que permitiam a passagem de pequenos feixes de luz.
Carlinhos pergunta ao mestre se havia algum feixe de luz próximo da onde eles se escondiam e a resposta foi que sim: um feixe vindo do teto estava numa distância menor que dois braços. Nesse momento ele expõe sua ideia: pega o fragmento que eles arrancaram da caverna de cristal, quando ficaram maravilhados com as refrações e reflexões da luz, e pergunta se é possível controlar esse feixe de luz para jogá-lo na parede do outro lado da sala, na intenção de despistar o Ogro. O mestre pede mais explicações.
O jogador então disse que os Ogros são criaturas que não são conhecidas por sua inteligência e que talvez acreditasse estar vendo uma fadinha ou algo assim, principalmente pq existe o boato na cidadela de Megalito que esse Ogro é supersticioso com criaturas místicas.
Ferramenta: Não existe uma regra para enganar Monstros, nesse momento uma negociação é aberta e cabe a mesa entrar em consenso de como resolver essa situação.
É evocada a ferramenta do D&D clássico conhecida como Reação - maneira como o NPC reage à presença ou atitudes dos personagens (podendo ser modificada pelo carisma do jogador). Mecanicamente, rola-se 2d6 e comparamos o resultado com uma tabela onde o mestre sugere que rolagens abaixo de 6 o monstro não acredita que é uma fada, entre 6-8 ele fica confuso e tenta chegar mais próximo do reflexo e acima de 8 ele acredita nessa ladainha.
Arbitragem:Ao propor essa tabela o mestre levou em consideração a tabela de reação e a utilizou como parâmetro.
*obs: a coluna arbitragem não extistia na ferramenta original, ela representa a proposta de arbitragem nessa situação específica.
Porém os jogadores vieram com uma contra proposta:
Negociação: O monstro não está reagindo aos personagens ele está apenas reagindo a "fadinha" ou a luz na pior das hipóteses, então parece mais lógico que ele fique surpreso, ainda mais sendo supersticioso e num momento em que acabou de acordar.
Ferramenta: Os jogadores trazem como ferramenta a SURPRESA - que avalia o quão pronto alguém está para eventos inesperados - mecanicamente o grupo que não tem ciência do outro rola 1d6 e é surpreendido caso a rolagem seja 1 ou 2.
Ao conversarem sobre as ferramentas a mesa chega num consenso de que a surpresa parece mais adequada para servir de parâmetro para essa situação.
Resolução: É proposto pelos jogadores de que não se trata de uma surpresa normal, portanto o Ogro estaria mais propenso a ser enganado por ter acabado de acordar e ser supersticioso. O grupo propõe que seja utilizado um bônus de +2 para chance de surpresa e o mestre contra-argumenta que não é tão fácil assim, mas que concorda que seria uma chance maior que a normal, dessa maneira decidem que a rolagem determine surpresa entre 1 e 3.
O risco acertado, portanto, é que se o monstro estiver surpreso é porque não teve tempo de raciocinar e associou o brilho voador a algum ser mágico (1 a 3 no d6), mas se não estiver surpreso (4 a 6 no d6) teve tempo de raciocinar e ver que o brilho é um reflexo e assim o grupo entrega sua posição.
Posto isso o mestre pergunta se algum jogador quer rolar o famigerado d6 ou se ele mesmo se encarrega disso. Será que essa negociação foi justa? Um bom feedback após a sessão poderia ajustar isso para situações similares no futuro!
Provavelmente nos próximos dias apresentarei mais alguns exemplos e em seguida partirei para falar um pouco de COMBATE. Até a próxima!
Gostei muito! :)
ResponderExcluirMuito bom o exemplo, é um pouco dificil internalizar negociações até vermos na prática funcionando!
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